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Hiper Paisagem! Exposição individual na Zipper Galeria!

Está em cartaz até o dia 11 de Junho a exposição Hiper Paisagem na Zipper Galeria em São Paulo! Apresento nesta exposição a obra Sonhário, que foi reconfigurada e modificada especialmente para o espaço da galeria, um conjunto de 9 obras feitas com desenhos recortados, um conjunto de pinturas pequenas azuis e uma pintura maior na qual continuo desenvolvendo uma espécie de colagem de referências.


A exposição conta com texto crítico de Shannon Botelho, que segue logo abaixo.

As fotografias são da Julia Thompson Mais imagens abaixo do texto! ;)

Vista da instalação



Hiper Paisagem



O conceito de paisagem não se constitui como um interesse recente no trabalho de Pedro Varela. Antes, conforma um pilar que estrutura a sua poética nas últimas duas décadas de modo fluido, muito similar ao traço de sua pintura. Desde Rioniteroi (2005) – quando pintou os vidros da barca que realiza a travessia entre as duas cidades –, passando por Cidade Flutuante (2010) – instalação realizada no Paço das Artes-SP – e chegando até Cidade dos Destinos Cruzados (2018) – instalação realizada com cartas tarô –, percebemos que o artista construiu um caminho no qual tem transitado, convocando para o conceito uma vocação contemporânea. Também integram este interesse as suas pinturas, onde as florestas – que, em alguns casos, invocam a memória barroca das naturezas mortas – mesclam realidade e projeção. Figuram entre elas, como exemplos, Chica Chica boom Chic (2012), Caveirão (2013), a série Queimada e os demais trabalhos de pintura em grandes dimensões. No percurso, Pedro integrou formas geométricas, elaborou elementos oníricos que se mesclam com as paisagens reais – vistas através dos vidros dos transportes ou dos edifícios –, expandiu os limites de sua pintura ao ocupar o espaço real, e sobretudo, formulou uma significação que se agigantou de tal modo que aqui é definida como Hiper Paisagem.


A construção da noção de paisagem – sabemos que este é um conceito pertencente ao campo da pintura – se deu ao longo da História da Arte como um recorte do mundo exterior, como uma forma de ordenação daquilo que o olhar humano podia captar, ou simplesmente como formulação de uma realidade imaginada. Nos trabalhos o conceito é tangenciado pela compreensão histórica e ampliado através da ação ativa de Pedro Varela. A paisagem que aqui se define é aquela que tentar abarcar o fluxo de informações que experimentamos cotidianamente, composta pela constelação de imagens do dia a dia ou das redes virtuais, que se multiplicam exponencialmente num curto espaço de tempo. Imagens estas aleatoriamente são oferecidas para nós e que podem, ou não, ser esquecidas com a mesma rapidez com que nos foram apresentadas. A Hiper Paisagem que o artista propõe apresenta uma espécie de padrão que unifica todas estas referências, sejam elas de humor, de política, de artes visuais, de música, ou ainda, frutos de uma psicodelia refinada que dá um tom jocoso para as obras que são ordenadas por caos particular e necessário.


O ponto em comum entre os trabalhos de Pedro está em sua vocação pictórica, pois mesmo que não opere dentro da lógica tradicional, convoca uma dimensão exata da pintura. No caso das colagens, que aqui apresentam noções ampliadas do conceito de paisagem, cada elemento assume um posto na composição de uma imagem volátil, em suspensão e que se [des]completa continuamente diante de nossos olhos. A faceta imaginativa das composições, que apresentam fragmentos do que vemos nas redes, em memes, vídeos, slogans e tantos outros, se estabiliza na composição e no que resulta dela como imagem. Como um tempo virtualizado, condensado diante de nossos olhos, cada um dos trabalhos apresenta um fragmento do real imaginado pelo artista. Pois, o que verificamos nada mais é do que uma realidade imaginada e manipulada para que as camadas oníricas da consciência se encontrem pacificamente, como que pausadas num ecrã.


Esse procedimento de compor uma imagem maior, a partir de pequenos fragmentos recortados de outras superfícies, convencionada outrora pelos surrealistas, encontra aqui mais uma ampliação de seu significado. Em sua experiência originária, a colagem serviu de ferramenta para que os artistas pudessem não só reordenar a pintura, mas também inserir em sua estrutura elementos que rompessem com a razão estruturante das cenas nas pinturas. Diferente disso, a colagem como é feita por Pedro Varela, não somente acolhe o produto do que é onírico, mas também o coaduna com as imagens reais e do virtual, operando um ato de pacificação entre o que é real, virtual e imaginado. Neste sentido, as colagens de Pedro Varela, como estão apresentadas hoje, se constituem como uma forma de estabilizar a pulsação do onírico, do real e do virtual em uma única estrutura, ao mesmo tempo, e compõem uma paisagem a seu modo.


O procedimento é simples, embora as escolhas sejam complexas. Como em uma pintura, há um limite do suporte delimitando a área de jogo onde a imagem final deverá estar contida. Em seguida, dentre os muitos recortes – de figuras midiáticas, frases, memes, caricaturas – um fluxo de [des]ordenação é instituído. Ordenar o caos e desordenar a imagem, em um processo ambivalente que culmina num arranjo onde a tragédia e o riso se apresentam como iguais, compõe no trabalho de Pedra Varela uma paródia do real e do contemporâneo. Presas por alfinetes e flutuando umas sobre as outras, figuras conhecidas, políticos, personagens, frases retiradas de músicas e vídeos da internet, e tantas outras referências pertencentes à cultura visual na qual estamos inseridos, recompõem uma espécie de nuvem imagética em uma atmosfera palpável. Na internet, esses personagens estão virtualizados e mesmo que sejam reais, ocupam um lugar de distância onde as relações são mascaradas e obliteradas com o tempo. Nas obras, toda virtualidade é uma forma de existência, ainda que ironicamente.


Como não falar da ironia, se ela mesma é um atributo da poética do artista? Assim como nas redes – onde imagens se modificam a cada 15 segundos – é demandada uma celeridade na percepção das mensagens, a ironia exige para si uma compreensão perspicaz e atenta ao momento vivido. Semelhantemente, o trabalho de Pedro Varela tenciona o presente ao trazer as controvérsias da vida prosaica, exigindo que o observador esteja atento as muitas informações contidas na imagem. Neste sentido, assim como nas redes somos capturados por imagens específicas e logaritmos, determinados elementos dos trabalhos nos cativam por operaram em nós mesmos uma conexão com a vida, lembrando-nos que há mais vida na arte do que fora dela. Mesmo que esta, no fim, seja amarga de constatar.


Ao fim, verificamos que Pedro Varela desenvolveu as os seus trabalhos desordenando os princípios pictóricos que construiu para si mesmo, no entanto, sem abandonar os índices de sua pintura. A forma e o traço são reconhecíveis, a cor localizada e arguta segue estruturante e necessária dentro de um espírito de colagem que agrega as formas e constitui as paisagens. Podemos verificar que as colagens de Pedro se constituem como um contorno posto nos limites de sua poética: pinturas, esculturas, instalações, ações. As paisagens, no caso, dão ordem ao caos criado conscientemente por Pedro. Em Hiper Paisagem o caos é bem-vindo, pois ele é estrutura de criação. Liga a obra à vida, colocando-nos no coração do tempo presente: no movente agora.






Shannon Botelho

2022



Vista da exposição

Vista da exposição

Vista da exposição

Vista da exposição

Sonhário, acrílica sobre tela montada em madeira fixada com hastes de metal sobre a parede. Dimensões variáveis, 2022.

Sonhário, acrílica sobre tela montada em madeira fixada com hastes de metal sobre a parede. Dimensões variáveis, 2022.

Sem título, acrílica sobre tela, 150 x 300 cm. 2022

2022, acrílica sobre tela, 30 x 20 cm, 2022

Sem título, acrílica sobre tela, 15 x 12 cm, 2022

Sem título, desenhos recortados montados com alfinetes sobre painel, 100 x 100 cm, 2022.

Sem título, desenhos recortados montados com alfinetes sobre painel, 50 x 75 cm, 2022.

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