Abertura de Intercâmbios / Tempos Cruzados
Sábado dia 7 de Abril às 17:00 horas abrirá a exposição Intercâmbios / Tempos Cruzados, no SESC Quitandinha, em Petrópolis. Participo da exposição junto com Carolina Ponte, Marcia de Moraes e Rodrigo Torres, o texto da exposição é da Marisa Flórido. Vai ser um prazer encontrar os amigos durante a abertura!
Intercâmbios : tempos cruzados é antes de tudo um gesto. Dois artistas de Petrópolis, Carolina Ponte e Pedro Varela, convidam dois artistas de fora: Márcia de Moraes (São Paulo) e Rodrigo Torres (Rio de Janeiro). Tal gesto de endereçamento e acolhida instaura uma dimensão fronteiriça, intersticial, um “entre” de laços e atravessamentos, de encontros e trocas: entre-outros, entre-territórios, entre-tempos. Os quatro artistas possuem poéticas singulares, mas partilham o processo de colagem, edição e montagem que configura suas produções. Desde o Cubismo e o Futurismo, a colagem introduziu elementos estrangeiros ao universo da arte: refugos do mundo cujo rearranjos e reconexões tanto produziam outros sentidos, como deixavam a marca indelével de sua incisão e ruptura. A montagem é sobretudo a explosão das cristalizações do tempo linear. Nos trabalhos destes artistas, fragmentos são inseridos em ordens heterogêneas, a explicitar fantasmagorias, estranhamentos, constelações em mobilidade. Saberes e imagens, mundos e tempos diversos são deslocados e cruzados para revelar a potencialidade do que é incompleto e de suas infinitas relações. Mas aos procedimentos de edição próprios das tecnologias eletrônicas - com seu tempo sem espessura, comprimido no imediato, esvaziado na circulação vertiginosa de imagens e informações -, eles confrontam a artesania do desenho, da pintura e da escultura, e o tempo vagaroso da confecção manual. Nessa zona intersticial e flutuante de entrelaces, emergem mundos, corpos, objetos, tempos. As cidades de Pedro dançam no ar ou cruzam avenidas e destinos nas cartas de tarô. Cidade-vertigem, cidade-visionária: a cidade é uma miragem, uma ilusão no deserto dos povos, um objeto do desejo na suspensão dos tempos míticos. As cerâmicas em trompe l’oeil de Rodrigo parecem saídas de um sítio escavado, como uma arqueologia às avessas, em que o vaso milenar e seu peso histórico hibridizam-se com a efemeridade e o descarte da sociedade contemporânea. Os crochês e colagens de Carolina são quase organismos que entrelaçam padrões populares aos ornamentos evocados do Quitandinha, penetrando seu corpo arquitetônico e a memória de seus tempos de glória. Nos corpos-arte de Márcia, a carne da cor e o risco do desenho são estilhaçados e remontados. Cortes e suturas na própria noção de corpo moldado como unidade fechada para abri-lo às indeterminações, às bordas incertas, às recombinações incessantes. Operadora de deslocações de sentidos, tempos, lugares, a exposição Intercâmbio aloja-se no intervalo que abre o território ao gesto de hospitalidade, o tempo a outros ritmos e pulsações, o mundo às formas impensadas e sem contornos, no cruzamento do possível e do impossível, do eterno agora às fugas do porvir. Marisa Flórido Abril de 2018